quinta-feira, 16 de julho de 2009

Comédia de bufões

Tua força me desloca e me pressiona no espaço.
Essa indiferença que sufoca.
Marionetes de uma comédia de bufões.
Protagonizo um parco espetáculo, um tanto quanto opaco.

Ocioso e cioso de tí, busco a força numa fresta,
onde tantas veze me escondi.
Pequena e insolúvel tristeza.
Dona de campos cinzas e céus vermelhos.
Nunca te amarei por não seres indefesa.

Teus olhos, espelhos d'alma,
me guiam por caminhos tortuosos e estreitos.

Tal como Diana com seu chicote,
domina meus sentidos que temerosos te espiam.
Vá flor da manhã, ave de migração.
Leva contigo a angústia de quem percebe
que errou de geração.

Luiz Sergio Neto

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Oficinas e cursos

Cursos de Férias no

Espaço Cultural Terracota

E nas férias é tempo de relaxar e fazer o que gosta. Por isso o Espaço Cultural Terracota promove cursos descontraídos, abordando assuntos apaixonantes e com valores acessíveis.

O escritor e cartunista Leandro Leite Leocadio trata da reforma gramatical, apresentando estratégias que vão acabar de vez com as dúvidas. Ainda, em outro curso, apresenta a história do humor e algumas práticas possíveis para artistas que queiram se valer dele na criação. Finaliza com uma oficina de charges e tiras. Todos certificados pela Universidade Cruzeiro do Sul.

Para mais informações e saber sobre outros cursos e oficinas, clique aqui, ou clique na figura para aumentá-la!


NO CAMINHO COMPRAREI FLORES

“Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva,
abraçado com a hélice”
(Jorge de Lima, O grande desastre aéreo de ontem)


Meu voo parte às onze

Parte um sonho

Parte a vida

Nada no chuveiro

Deixo o sabonete

Pego a escova de dente, cabelo

Remexo os lençóis

Não há nada

Tudo na mala

Não há nada

Não consigo amá-la

Porque adoro rimas bobas

Mas só o que há na vida é bobagens

A vida são as bobagens

O resto é sobrevivência

Meias cuecas carteira

Não posso esquecer nada

Nunca esqueço

Sempre lembro que o meu voo parte às onze

Parte a vida

Sempre parte

Partilha da liberdade transviada

Mas parte os sonhos

E gera outros

Que a presença da saudade

É a ausência

Nada

Em cima do frigobar desligado da tomada

Não tem ar

Condicionado

Um tapete pregado na parede tampa o buraco

Aline está me esperando no desembarque

Já marcou com o cara do vídeo

Vamos também ver os convites

Embaixo da cama um batom

Que não vi quando rolou para lá

Libertinagem noturna que me revigora

A mulher foi embora

Seus olhos tinham um lindo sorriso

Não precisava da boca

Já se foi, partiu

No caminho comprarei flores.


Leandro Leite Leocadio

PRESO E SOLTO E CUSPIDO

(Redondilha maior,

Em ré menor,

arranjo para chales.)


Sabia o quanto importava

Toda a nossa relação.

Sei que já me desejava,

E o seu pai me deu-lhe à mão.


Quando ele me concedeu,

Você já tinha vinto cinco,

Já não fui mais pro museu,

Me corrija se eu minto.


Onde ia, me levava,

Festa chique ou São João,

Você sempre me guardava

Perto de seu coração.


Eu já era todo seu,

Você já não me largava,

Dizia que me prendeu.

Até hoje assim estava


Quando fui preso e solto

Cuspido quase engolido

(Culpa daquele cupido)

Estava em saliva envolto,


Atirado na sarjeta.

Fui deixado para trás,

Caí dentro da valeta.

Você beijava o rapaz,


Estavam se agarrando,

Bem no meio desta rua,

Eu estava me soltando

Realmente, a culpa é sua.


Quando deu por minha falta,

O caso deu até B.O.,

Ouvi a sua voz alta:

– Perdi o broche da minha vó!


Leandro Leite Leocadio

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Apenas um instante no tempo


Acordo como de costume e, de repente, ao olhar-me no espelho deparo-me com uma sensação, certa espécie de estranhamento em relação à imagem que vislumbro.
Eu sei que sou àquela ali; uma representação tridimensional de um eu, dos inúmeros que habitam meu ser. Escovo os dentes, tomo um banho, dirijo-me à cozinha no intuito habitual de preencher o vazio do estômago após um longo adormecer.
Sento-me à mesa, folheio o jornal e ao olhar para cima da página percebo esta, meio apagada, desfocada, mas, mesmo assim procuro ler para me atualizar em relação às notícias do dia.
Quase no mesmo instante, sinto mais uma vez aquele estranhamento antes observado, uma sensação de ser e de estar estrangeira diante do espaço que me envolve.
Sinto-me presa ao tempo. Procuro uma resposta em minha mente inquieta. Ouço uma voz sussurrando no ar: “Sou eu, seu pensamento e a resposta às suas indagações, está implícita em suas sensações; falando claro, você não pertence a este tempo!
Você é do tempo de brincadeiras de criança, de gentilezas manifestadas, de abraços fraternos, de cartas de amor, de colo de vó, de conversas à toa, de cheiro de mato e de céu estrelado, de sonhos, de devaneios, de anseios e ideais coletivos. Um tempo de histórias fantásticas, de contos de fadas, de finais felizes...”
Após ouvir estas revelações de minha mente, paro, penso e digo: “Espera Sophia, este ou estes tempos realmente existiram, ou serão apenas projeções de uma mente nostálgica por aquilo que deveria ser mais não foi?”
Ouço mais uma vez: “Calma Sophia, pois o tempo é outro, o mundo é outro, você não é daqui. Você realmente é uma estrangeira em relação à realidade que a cerca. O mundo cresceu, transformando flor em pedra, rio em lama, compaixão em indiferença, pessoas em números e você; você mesma que ainda sorri,chora,sente e sonha não existe para este mundo.
A liberdade e a palavra são suas únicas armas para fugir desta realidade que o mundo criou. Tente tocar o mundo como se fosse um instrumento, toque uma música para chamar a atenção do sol, da lua, das estrelas, dos oceanos.Organize um baile à moda antiga, para que todos, sem exceção possam dançar a dança da vida, da esperança e da liberdade. Nada é tão rígido ou imutável. O caos pertence a este mundo; um caos organizado, pronto para fazer e desfazer qualquer coisa.”
Ah! Então sou isto, um instante no tempo, que depende de minha vontade para se fazer existir.


Sophia

terça-feira, 30 de junho de 2009

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Pérolas aos porcos.

Só confio no que toco.
Não tenho tempo a perder com intenções, pensamentos e citações.
Acredito apenas nos que realizam, nos que mantém seu foco.

Textos, imagens, poesia são feitos todos os dias.
Uns bons, uns maus, apenas utopias.
Não julgo, pois sou como muitos que sequer os consideram.
Trabalho e me empenho apenas no que vários prosperam.

Não vejo graça no que não possa ser contabilizável.
Aprecio a beleza da representação exata dos números.
Ao invés de sonhos, me emociono é com a contabilidade realizável.
Com a tradução perfeita em centavos de quem sou em miúdos.

Só o exato me permite comparar, pesar, calcular, medir.
Por ele abro mão de sutilezas, prefiro a certeza dos dados para me fiar.
Dizem ser rico o caminho dos que vivem a compor, escrever e sentir.
Para mim, o oposto perfeito do destino de seus autores nas editoras a mendigar.

Por isso meu amigo, busque sempre uma solução técnica para prosperar.
O projeto de uma engenharia da conquista irá construir suas portas de acesso.
Afinal, nesse mundo de corporações, tudo que é sólido se transforma no ar.
Condicionado em sua sala, você viverá na prática o sonho do céu hermético do sucesso.

Luiz Sergio Neto