quarta-feira, 8 de julho de 2009

NO CAMINHO COMPRAREI FLORES

“Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva,
abraçado com a hélice”
(Jorge de Lima, O grande desastre aéreo de ontem)


Meu voo parte às onze

Parte um sonho

Parte a vida

Nada no chuveiro

Deixo o sabonete

Pego a escova de dente, cabelo

Remexo os lençóis

Não há nada

Tudo na mala

Não há nada

Não consigo amá-la

Porque adoro rimas bobas

Mas só o que há na vida é bobagens

A vida são as bobagens

O resto é sobrevivência

Meias cuecas carteira

Não posso esquecer nada

Nunca esqueço

Sempre lembro que o meu voo parte às onze

Parte a vida

Sempre parte

Partilha da liberdade transviada

Mas parte os sonhos

E gera outros

Que a presença da saudade

É a ausência

Nada

Em cima do frigobar desligado da tomada

Não tem ar

Condicionado

Um tapete pregado na parede tampa o buraco

Aline está me esperando no desembarque

Já marcou com o cara do vídeo

Vamos também ver os convites

Embaixo da cama um batom

Que não vi quando rolou para lá

Libertinagem noturna que me revigora

A mulher foi embora

Seus olhos tinham um lindo sorriso

Não precisava da boca

Já se foi, partiu

No caminho comprarei flores.


Leandro Leite Leocadio

Um comentário:

  1. O poeta e escritor Leandro L. Leocádio, observa, em minha percepção, neste poema, o retrato conflituoso das relações humanas; seus sentimentos de ambiguidade e de desordem interiores que nos levam a caminhar pelos sinuosos e frágeis dilemas existenciais.

    SOPHIA

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